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Provavelmente você já deve ter visto alguma placa com o nome de Celso Garcia Cid, ou até mesmo conhece a famosa empresa de transporte rodoviário, a Viação Garcia. Mas o que muitos desconhecem é a história desse espanhol que foi um dos nomes mais importantes da pecuária brasileira, sendo considerado por muitos como um homem a frente do seu tempo.

Neste post reunimos um pouco da trajetória de sucesso de Celso Garcia Cid, pioneiro, empresário e visionário pecuarista.

  1. Um pouco sobre sua história
  2. A Viação Garcia
  3. O Palacete dos Garcia
  4. A viagem à Índia
  5. A herança genética
Celso Garcia Cid em foto antiga.
Celso Garcia Cid.

Um pouco sobre sua história

Nascido em 30 de abril de 1909 em uma família muito pobre na pequena aldeia em Galícia na Espanha, Celso Garcia Cid, ainda muito jovem, demonstrava suas habilidades no cultivo da terra e no trato de bovinos, sendo esta última, uma de suas atividades preferidas e que exercia com muito amor para ajudar sua mãe viúva.

Sua história com o Brasil, começa no início da década de 30, quando desembarcou em Santos, trabalhando primeiramente como auxiliar de cozinha e posteriormente como garçom. Enquanto servia as mesas, Garcia Cid aproveitava para ouvir as conversas dos viajantes. Foi em uma destas conversas que despertou seu interesse pelo Paraná, após escutar de imigrantes ingleses sobre a qualidade das terras paranaenses.

Com o Paraná em mente, Celso foi morar na cidade de Cambará, onde trabalhou como ajudante de pedreiro na construção de um hotel. Durante esse período, fazia viagens para levar telhas e tijolos para o que viria a ser futuramente a cidade de Londrina. Foi em uma dessas viagens, que enxergou na escassez de transportes da época uma oportunidade de negócio, que além de lhe trazer fortuna, possibilitou investimentos que mudariam completamente a pecuária brasileira.

Casou-se com Francisca Campinha Garcia em 28 de maio de 1936, em Londrina no Paraná, com quem teve 4 filhos, João Garcia Cid, Manoel Campinha Garcia Cid, Fernando Campinha Garcia Cid e Beatriz Campinha Garcia Cid.

A Viação Garcia

Foi ao lado do mecânico alemão Mathias Heim, responsável pela administração do transporte dos pioneiros, que Garcia Cid teve a ideia de pegar o seu único caminhão e o transformar em uma jardineira para conseguir transportar o maior número de pessoas possível pela região de Londrina. A ideia fez tanto sucesso que em 15 de janeiro de 1934, os europeus criaram a Companhia Rodoviária Heim & Garcia, sociedade que durou 3 anos, após Heim deixar a empresa.

Com o desfalque, Garcia Cid precisava de um novo sócio para expandir os negócios. Encontrou no imigrante espanhol José Garcia Villar, a pessoa ideal. Com uma nova sociedade formada, os espanhóis criaram em 1º de fevereiro de 1938, a Empresa Rodoviária Garcia & Garcia, que foi a responsável por transportar diversos trabalhadores, imigrantes, pioneiros e empreendedores pelo Paraná.

Atualmente, a Viação Garcia atua com o transporte rodoviário nos estados do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, transportando mais de 21 milhões de passageiros por ano. A companhia que figura entre a 5ª maior companhia do setor rodoviário no país e é motivo de orgulho dos londrinenses, permaneceu no comando da Família Garcia por quase 80 anos, após ser vendida pelos herdeiros em 2010 para um grupo de investidores.

Celso Garcia Cid, Mathias Heim, Alberto Giansanti, Armando Ortenzi e Gustav Budernick, posam em frente à Jardineira e das novas oficinas na década de 1950.
Celso Garcia Cid, Mathias Heim, Alberto Giansanti, Armando Ortenzi e Gustav Budernick, posam em frente à Jardineira e das novas oficinas na década de 1950.

O Palacete dos Garcia

Considerado um dos pioneiros da colonização de Londrina, o espanhol que foi o criador da mais famosa empresa londrinense, também foi responsável por uma das construções mais icônicas de Londrina, o Palacete dos Garcia. Construído em 1945 sob o comando de Celso Garcia Cid, o palacete era a residência mais notável da cidade. A intenção de Celso com a construção, era que uma figura importante, como um governador de Estado, por exemplo, pudesse pernoitar confortavelmente.

O imóvel que se destacava pelo luxo de sua arquitetura neoclássica, considerado um dos mais icônicos da paisagem londrinense, foi palco de inúmeras reuniões importantes e visitas ilustres. Um dos convidados mais importantes que inclusive se hospedou no casarão, foi ninguém menos que Juscelino Kubitschek, recebido calorosamente com um imenso banquete pela família Garcia.

O palacete de 1.085 m² que foi símbolo de poder e progresso na época, foi residência da Família Garcia até 1980, quando passou a ter função comercial. Em 2011, por iniciativa da família, o palacete foi tombado como Patrimônio Cultural de Londrina pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná (CEPH). Atualmente, um banco funciona no local, porém todas as características do imóvel ainda são preservadas, devido ao tombamento.

Fachada neoclássica do Palacete dos Garcia na década de 1950.
Fachada do Palacete dos Garcia na década de 1950.

A viagem à Índia

Muitas pessoas resumem a trajetória de Garcia Cid apenas ao sucesso da empresa rodoviária. Mas se engana quem pensa que Celso foi apenas pioneiro e dono da Viação Garcia. Mesmo com todo o sucesso da companhia rodoviária, o visionário espanhol no auge dos seus 50 anos, ainda tinha como sonho criar raças de gado Zebu em sua propriedade, a Fazenda Cachoeira.

Para realizar esse sonho, Celso viajou para Minas Gerais em busca de zebuínos autênticos. Porém os que encontrava em solo brasileiro não eram tão puros e causavam frustração a cada aquisição feita pelo espanhol.

Em uma conversa com seu velho amigo e colaborador da fazenda, Ildefonso Santos, Celso expressou sua insatisfação com as inúmeras tentativas em comprar gado Zebu no Brasil. Ildefonso, então soltou a célebre frase que despertaria ainda mais o desejo do pecuarista em adquirir aquela raça:

“Fora de Minas, Zebu só mesmo buscando na Índia”.

Decidido a comprar gado zebu de qualquer jeito para melhorar a genética do gado nacional, Celso Garcia Cid, viaja para a Índia com Ildefonso em 21 de novembro de 1958, sem ter nenhuma ideia de quando poderia voltar ao Brasil. Os homens então, iniciam na Índia, uma busca por animais reprodutores e suas matrizes, encontrando após muita procura, os melhores zebuínos na criação do famoso Marajá de Bhavnagar, cuja família criava zebus há pelo menos três séculos.

Celso Garcia Cid recebendo touro Gyr "Pushpano" das mãos do Marajá de Bhavnagar.
Celso Garcia Cid recebendo touro Gyr “Pushpano” das mãos do Marajá de Bhavnagar.

Dentre as raças zebuínas criadas pelo Marajá, os exemplares escolhidos por Garcia Cid foram: Guzerá, Gyr e Nelore. Porém, Celso encontrou dificuldades para trazer as três raças para o Brasil, devido à proibição da importação de animais que vigorava na época. Foi somente em 1960, com a autorização do presidente Juscelino Kubitschek, que conseguiu trazer ao país 119 cabeças de gado zebuíno, que mais tarde provocariam o maior e mais importante choque de sangue na pecuária do país.

Em 1965, Celso recebe uma carta da Índia, comunicando o falecimento do Marajá de Bhavnagar – seu amigo e principal fornecedor de gado zebuíno. Nesta carta, o sucessor do trono e filho do Marajá, revela o desejo do pai em presenteá-lo com todas as suas vacas, dado o tamanho da amizade e consideração que o hindu tinha por Garcia Cid. No entanto, Celso nunca conseguiu trazer as tais vacas para o Brasil, devido a uma nova proibição do governo brasileiro, que impediu a importação de gado estrangeiro.

A herança genética

Graças ao trabalho árduo e incansável de Celso Garcia Cid, as raças trazidas da Índia sobreviveram e se espalharam por todo o país. Para se ter uma ideia da importância dessa importação, atualmente, cerca de 80% do gado nacional tem genética zebuína composta pelas raças Gyr, Nelore e Guzerá. O gado, que se adaptou perfeitamente ao clima brasileiro, hoje é premiado internacionalmente pela qualidade e desponta no cenário internacional com cerca de 1,50 milhões de toneladas exportadas por ano.

Os serviços do homem que se consagrou como o eterno Rei do Zebu, foram reconhecidos nacionalmente, assim como os serviços de sua esposa, Francisca Garcia Cid, que após a morte do marido em 22 de dezembro de 1972, se tornou precursora do seu trabalho de melhoramento genético na fazenda Cachoeira, mantendo o nome da Família Garcia como um dos maiores da pecuária nacional.

Gado branco Gyr-Nelore da Fazenda Cachoeira 2C, em Sertanópolis, Paraná.
Gado Gyr-Nelore da Fazenda Cachoeira 2C, em Sertanópolis, Paraná.

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