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Muitas pessoas já devem ter passado em frente à Capela Nossa Senhora do Caminho, localizada na entrada de Cambé às margens da BR-369 e se deparado com a imagem de uma simpática freira com os braços abertos.

Mas o que muitos não sabem é que a religiosa em questão é ninguém menos que Madre Leônia Milito e que o templo foi erguido em sua homenagem no mesmo local do acidente de carro que lamentavelmente tirou sua vida.

madre leônia milito de braços abertos em praça na Itália
Madre Leônia Milito em Praça na Itália.

A vida de Madre Leônia Milito

Madre Leônia Milito, cujo nome de batismo era Maria Milito, foi uma missionária nascida no dia 23 de junho de 1913, na comuna de Sapri na Itália. Vinda de uma família de cristãos praticantes, logo seguiu o chamado de Deus, se tornando missionária ainda na adolescência. Tinha inúmeros talentos, entre eles: tocar piano, bordar e costurar, mas o que chamava a atenção era a sua liderança cristã e sua assídua participação na sociedade sempre em prol dos mais pobres.

Aos 21 anos, enfrentou resistência dos pais e irmãos quanto à sua religiosidade, fugiu de casa com sua mestra de bordado e também superiora da comunidade das irmãs em Sapri, rumo a Nápoles, onde foi recebida como postulante no Instituto das Pobres Filhas de Santo Antônio.

Em dezembro do mesmo ano, Maria Milito ingressou no noviciado, recebendo o hábito religioso franciscano e o nome Leônia, em honra à São Leão Magno, Papa e Doutor da igreja. Ao final do noviciado, Madre Leônia se tornou formadora das postulantes e noviças para missões na igreja e na sociedade.

Em 1946, Leônia adquiriu um antigo monastério, se dedicando à formação das futuras religiosas, sendo nomeada pelo Instituto das Pobres Filhas como superiora da comunidade e mestra das noviças e postulantes. Neste local coordenou diversas obras, como atividades pastorais, cursos de artes manuais, pensionato estudantil para jovens, escola de ensino fundamental e o colégio interno para meninos órfãos da Segunda Guerra Mundial.

madre leônia distribuindo alimento para crianças ao seu redor.
Madre Leônia Milito e irmãs realizando ação com crianças.

Sua vinda ao Brasil

Sua relação com o Brasil, começou através de uma carta que foi enviada por uma noviça de seu monastério ao Frei Valentim, seu tio que vivia em São Paulo. Madre Leônia aproveitou do envio da carta e anexou junto uma mensagem na qual demonstrava seu interesse em ajudar na missão brasileira.

Em 1952, Frei Valentim responde a carta e solicita que enviem irmãs com urgência para fundar uma casa na cidade de Matão em São Paulo, sendo Madre Leônia a encarregada por preparar as primeiras irmãs que viriam ao Brasil. No ano seguinte, a religiosa finalmente pisa em solo brasileiro, acompanhada de um novo grupo de irmãs.

Em sua passagem pelo Brasil, Madre Leônia criou 4 casas, organizou a missão e voltou meses depois para a Itália. Contudo, o seu dom missionário falou mais alto e a religiosa foi enviada por seus superiores de volta ao Brasil para coordenar novamente a missão. Apaixonada pelo país e com desejo de permanecer atendendo à urgência missionária, Leônia sai do Instituto em 1956, se estabelecendo definitivamente no Brasil.

madre leônia ao lado de dom geraldo fernandes.
Dom Geraldo Fernandes, 1º bispo e arcebispo de Londrina ao lado de Madre Leônia Milito.

Sua relação com Londrina

Em 1957, após sua saída do Instituto das Pobres Filhas, Dom Geraldo Fernandes, 1º bispo e arcebispo de Londrina é encarregado pelo Instituto a acompanhar Leônia no Brasil, inaugurando com a religiosa no ano seguinte, a Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret em Londrina, que tinha como missão evangelizar e ajudar os pobres e mais necessitados.

Nos 22 anos que esteve à frente da Congregação, a religiosa abriu quase 100 casas e realizou mais de 100 obras nos 5 continentes em que passou. Madre Leônia pretendia ainda realizar mais missões exterior, começando pela Europa e África, mas infelizmente teve seus planos interrompidos por um trágico acidente de trânsito.

O acidente que tirou sua vida

No dia 22 de julho de 1980, Madre Leônia estava a caminho de Maringá para uma visita ao bispo Dom Jaime Luiz Coelho, quando uma carreta invadiu a pista contrária e acertou o carro em que viajava com as irmãs Ana, Tarcísia Gravina e Eucarística, cofundadoras da Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret em Londrina. Madre Leônia que estava em missão juntamente com as freiras, foi a única vítima fatal desse grave acidente.

No local de sua morte, foi levantada uma capela que lembra com amor e gratidão os feitos da religiosa. No templo são realizadas missas mensais todo o dia 22, onde os fiéis percorrem cerca de 17 km até o Santuário Eucarístico Mariano, local de peregrinação onde está localizado o túmulo de Madre Leônia.

Em 2009, em razão de inúmeros relatos de interseções em acidentes de trânsito, Dom Orlando Brandes nomeou Madre Leônia como a Padroeira da Vida no Trânsito. Desde então, todos os anos ocorre a tradicional benção dos carros, evento realizado na Avenida Madre Leônia Milito pela Paróquia São Vicente de Paulo e que reúne centenas de fiéis.

Algumas homenagens póstumas

No final de 1980, o prefeito de Londrina, Antônio Belinati, sancionou a Lei nº 3.219, que alterou o nome da antiga Rua Quito para Avenida Madre Leônia Milito em homenagem à freira. Atualmente, a avenida que leva o nome da religiosa possui prédios e comércios com um dos metros quadrados mais caros e disputados de Londrina.

Em 2006, nessa mesma avenida, foi inaugurada a Casa da Memória Madre Leônia Milito, que tem o intuito de preservar a memória histórica da missionária e da Congregação Claretiana. O espaço que já foi o lar de Leônia e das irmãs claretianas, foi reconhecido pela prefeitura como importante polo turístico e cultural de Londrina, devido à preservação quase intacta da residência, mobília, pertences da Madre, entre outros itens que fazem parte desse acervo histórico tão rico.

madre leônia milito recebendo o círio das mãos do papa paulo VI
Madre Leônia Milito recebendo o Círio das mão do Papa Paulo VI (1975)

A futura santa do Paraná

Devido às inúmeras graças e intercessões registradas em diversas regiões, em 1998, a arquidiocese de Londrina deu início ao processo de canonização da Madre. A fase diocesana foi finalizada em 2003 e registros que embasam o pedido de canonização foram incluídos na Congregação para a Causa dos Santos em Roma.

Atualmente, na hierarquia da igreja, a religiosa é considerada uma Serva de Deus, devido ao processo de canonização ainda estar em andamento, mas a qualquer momento, a religiosa italiana que doou sua vida pelos mais pobres, pode se tornar a primeira santa que atuou em solo paranaense.

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